Hominídeos de três espécies conviveram na África, diz estudo
Novos fósseis sugerem que humanos primitivos eram grupo diversificado no Quênia há 1,9 milhão de anos.
É um cenário que parece saído de romances de
fantasia, como "O Senhor dos Anéis": três espécies distintas de seres
inteligentes, cada uma delas com aparência e cultura próprias, vivendo
lado a lado por milênios.
Segundo uma nova pesquisa, é exatamente isso o que aconteceu na
África Oriental há 1,9 milhão de anos, quando o gênero humano, o Homo,
estava se estabelecendo. Novos fósseis - fragmentos de um crânio e
mandíbulas -, descobertos em Koobi Fora, no Quênia, são a base dessa
hipótese, defendida em estudo na edição de hoje (9) da revista
científica "Nature".
O grupo de Meave Leakey, do Instituto da Bacia Turkana, em Nairóbi,
analisou a anatomia desses cacos e concluiu que eles se encaixariam com
outro fóssil, o crânio conhecido como KNM-ER 1470, achado nos anos 1970.
Para alguns, o KNM-ER 1470 representaria uma espécie separada de
hominídeo, o Homo rudolfensis, distinta de dois velhos conhecidos dos
paleoantropólogos, o Homo erectus e o Homo habilis. Para outros, ele não
passaria de uma variante do H. habilis. Os novos fósseis parecem
confirmar que o H. rudolfensis pertencia a uma linhagem distinta -
embora Leakey e seus colegas não usem o nome. Querem mais estudos antes
de dar esse passo.
Se eles estiverem corretos, cai por terra de vez uma ideia que já
estava sendo muito atacada: a de que teria havido uma progressão linear
de espécies de humanos primitivos - H. habilis gerando H. erectus
gerando H. sapiens - rumo ao homem moderno. Em vez disso, prevaleceria o
chamado modelo do arbusto: vários "galhos" da linhagem humana evoluindo
ao mesmo tempo, cada um com suas próprias adaptações e estilos de vida.
Alguns teriam se extinguido, enquanto outros deixaram descendentes.
Esteban Sarmiento, primatologista da Fundação Evolução Humana, em
Nova York, diz que tem dúvidas sobre as conclusões do estudo. "No fundo,
o principal argumento para associarem esses fósseis ao KNM-ER 1470 é a
idade deles, a comparação morfológica não mostra isso."
(Folha de São Paulo)
Fonte: JC e-mail 4558, de 09 de Agosto de 2012
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