Antigo cemitério clandestino ou arqueológico? Artigo de Audemário Prazeres
Audemário Prazeres é presidente-fundador da Associação Astronômica de Pernambuco. Artigo enviado ao JC Email pelo autor.
Um estudo de caso sobre as ossadas encontradas no limite dos municípios de Vertentes e Taquaritinga do Norte em Pernambuco.
Durante momento de treinamento em trilhas ecológicas, tive a grata
oportunidade de conhecer o que se mostra ser um cemitério clandestino ou
quem sabe até um sítio arqueológico, localizado na região da Serra da
Taquara na divisa entre os municípios de Vertentes e Taquaritinga do
Norte, no Agreste Setentrional do Estado de Pernambuco. Trata-se de uma
furna com todas as características de um cemitério clandestino ou
arqueológico, tendo uma grande quantidade de ossadas humanas facilmente
visíveis com simples escavações de profundidades pequenas e medianas.
Sua localização precisa refere-se a Latitude: -7,9163891170174 e
Longitude: -36,0034539643675, obtidas a partir de medição por GPS.
Já dizia Sir Mortimer Wheeler, um dos principais arqueólogos
britânicos do século XX, que "o arqueólogo não escava objetos, mas
civilizações". Sabemos que a Arqueologia é enquadrada como ciência
social que permite obter-se conhecimentos para melhor se entender a
humanidade em seu passado, isso conforme a Lei Federal 3.924, que é
exatamente a lei que rege o patrimônio arqueológico nacional.
Conforme registros históricos, somente a partir de 1828, surgiram
leis que originaram a criação dos cemitérios considerados municipais.
Mesmo assim, e seguindo ainda uma tradição medieval, era comum naquela
época, os pagãos serem sepultados em cemitérios clandestinos distantes
ou nas periferias das cidades e não em cemitérios municipais. O curioso é
que essa ação em que os negros eram sepultados clandestinamente acabou
se tornando um símbolo da resistência à escravidão.
Quando me refiro a possibilidade de ser um cemitério clandestino
parto do princípio que, na época do Brasil colonial, não haviam locais
como entendemos hoje como cemitérios. O que justifica o costume de haver
sepultamentos sob piso ou paredes de igrejas e até conventos. Essa
cultura que envolve esse tipo de sepultamento parte de um costume
encontrado desde a Idade Média, pois acreditava-se que havendo
sepultamento em uma igreja, estaria o sepultado mais próximo de Deus.
Como sepultar era um serviço extremamente caro, nesses locais eram
sepultadas as pessoas mais importantes financeiramente da época.
Há relatos históricos que a cidade de Vertentes, distante 156 km da
capital Recife, originou-se a partir das civilizações de antigamente que
penetraram naquelas terras pelos idos dos anos de 1750, partindo de
perto do Rio Capibaribe indo atingir os limites com o estado da Paraíba.
Lá existe uma igrejinha secular, conhecida popularmente como Capela da
Goiabeira, edificada no antigo Sítio da Goiabeira existente desde a
formação da cidade, hoje conhecida como Igreja Nossa Senhora das Dores.
Contam seus moradores mais antigos que a mesma foi construída por negros
escravos. Assim, podemos conjecturar ser realmente uma furna das
ossadas, encontrada na divisa dos municípios de Vertentes e Taquaritinga
do Norte, um local de sepultamento dos negros escravos que existiam
naquela região, pois a igreja - que é localizada no referido Sítio das
Goiabeiras - é próxima e de fácil acesso a furna dos ossos encontrada.
No momento em que nos deparamos com o local do provável cemitério
clandestino ou arqueológico em questão, como de praxe, ao percebermos
que o achado poderia ser de cunho arqueológico, notificamos as
autoridades competentes e, ainda estando no local da referida furna,
entrei em contato com meu ex-professor, Luiz Carlos Luz Marques,
coordenador do Curso de História da Universidade Católica de Pernambuco.
Este, por sua vez, nos orientou contatarmos a arqueóloga Elenita
Rufino, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan), fato este notificado em 7 de fevereiro de 2012. Na ocasião
obtive como resposta, que o Iphan-Pernambuco encontrava-se resolvendo
questões orçamentárias para o exercício 2012 e, assim que os recursos
estivessem disponíveis, as fiscalizações seriam agendadas no referido
local da furna das ossadas para verificação.
As imagens contidas no corpo do artigo foram feitas na ocasião da
descoberta, pelo ambientalista e professor Arnaldo Vitorino que me
acompanhou na expedição até ao local, ocasião em que oficializamos a
existência da mesma aos órgãos de pesquisa.
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