Por motivo de manutenção dos servidores da UEPB, os números anteriores do Boletim estão temporariamente inacessíveis.
Este é o blog da Sociedade Paraibana de Arqueologia. Contato: sparqueologia@gmail.com

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Homem saiu da África antes do imaginado

Machados e outras ferramentas de 125 mil anos foram encontradas em sítio arqueológico nos Emirados Árabes

O que é que esta gente estava fazendo lá? Essa é a pergunta que arqueólogos pelo mundo inteiro estão se fazendo agora, com a publicação de um trabalho na "Science" que vai mudar o mapa da ocupação do planeta pela espécie humana.

O que aconteceu foi que arqueólogos encontraram artefatos humanos fora da África muito antes de... bom, muito antes de os humanos terem saído da África -eles não precisaram se esforçar muito para perceber que isso não fazia muito sentido.

É consenso há décadas que o Homo sapiens surgiu na África há 200 mil anos -a noção de "mama África" une os arqueólogos a Chico César- e saiu do continente para ocupar todos os cantos do mundo há 60 mil anos.

Mas as ferramentas humanas de cortar, furar e raspar (especialmente machados) encontradas nos Emirados Árabes têm 125 mil anos, segundo uma técnica chamada datação por luminescência -grosso modo, o solo vai alterando as propriedades químicas originais do material. Quando mais "alteradas", então, mais antigas.

Os donos dos machados poderiam, de fato, ter atravessado o mar Vermelho com certa facilidade, molhando apenas as canelas. O mar estava, dizem os climatologistas, bem mais seco na época, tendo várias regiões rasas.

Os livros didáticos, então, terão de ser alterados agora. "O estudo levanta muito mais perguntas que respostas", diz Jeffrey Rose, arqueólogo da Universidade de Birmingham (Reino Unido).

Ele fala isso porque ninguém sabe se essa expedição humana pioneira teve sucesso (e então seria razoável imaginar que eles acabaram chegando a regiões como a Índia e até a Austrália) ou se estamos falando apenas de uma meia dúzia de perdidos que se afastaram da África e acabaram morrendo, sem deixar descendentes.

Se a última hipótese for a verdadeira, a resposta para a pergunta que inicia este texto é simples: estavam, sim, desbravando a região, mas acabaram fracassando e não são nossos ancestrais, honra que fica reservada mesmo para grupos que saíram da África milhares de anos depois, como já se imaginava.

Mas é difícil cravar essa conclusão. Ao contrário do mar Vermelho, então mais seco, o clima da península Arábica, na época, era bem úmido: esses pioneiros devem ter encontrado grandes savanas, repletas de grandes animais como gazelas.

Se a carne era farta, por que eles teriam morrido fácil? A hipótese de guerra também não convence muito: os neandertais, por exemplo, que talvez pudessem oferecer riscos, viviam bem longe, perto da Europa.

Justamente por ser uma região úmida, é difícil que fósseis humanos da época possam ser encontrados hoje na região, trazendo mais informações sobre o que aconteceu com esse grupo. A umidade do solo não favorece a conservação dos ossos -por isso é difícil encontrar fósseis na Amazônia, por exemplo.

Existe uma chance, então, de simplesmente não ser possível saber qual foi o destino daquelas pessoas.

(Ricardo Mioto)
(Folha de SP, 28/1)
Disponível em:
JC e-mail 4188, de 28 de Janeiro de 2011.

0 comentários:

Leia por assuntos

Boletim da SPA eventos evento Arqueologia Pedra do Ingá IHGP História Patrimônio Vandalismo Lançamento Paleontologia Rev. Tarairiú Campina Grande Centro Histórico João Pessoa Revista Eletrônica Arte IHGC Juvandi Tarairiú Cariri Carlos Azevedo Homenagem Livro Museu Arqueologia Histórica Artigo Diário da Borborema Arquivo Espeleologia História da Paraíba IPHAEP Inscrições Rupestres LABAP MHN UEPB Nivalson Miranda Pesquisas Thomas Bruno Vanderley Arte Rupestre Encontro da SPA Evolução Exposição Fósseis Itacoatiaras Patrimônio Histórico Soledade São João do Cariri UEPB Achado Arqueológico E-book Falecimento IPHAN Missões Palestra Piauí Projetos Queimadas Raul Córdula SBE Semana de Humanidades Serra de Bodopitá UFCG Vale dos Dinossauros Acervo Antropologia Arqueologia Experimental Barra de Santana Boqueirão Brejo Cabaceiras Capitania da Paraíba Cartilha Clerot Cordel Descaso Escavação Estudos Evolutivos FCJA Forte Ingá Itatuba Lagoa Salgada Memórias Natal Niède Guidon Patrimônio Arqueológico Pesquisador Serra da Capivara Serras da Paraíba São João do Tigre UBE-PB USP Uruguai Walter Neves África ALANE ANPAP APA das Onças Amazônia Amélia Couto Antônio Mariano Apodi Araripe Areia Arqueologia Industrial Arqueologia Pública Aula de campo Aziz Ab'Saber Bacia do Prata Belo Monte Biografia Brasil CNPq Camalaú Caraúbas Carta circular Casino Eldorado Cavidade Natural Ceará Cemitério Comadre Florzinha Concurso Cozinhar Cuité Curimataú Curso Curta-metragem Datação Dennis Mota Descoberta Dom Pedro I Dossiê Educação Ambiental Educação Patrimonial Elpídio de Almeida Emancipação política Espaço Cultural Esponja Exumação Falésia do Cabo Branco Fazendas de gado Feira de Campina Grande Fonte Histórica Forte Velho Funai Fórum Permanente Ciência e Cultura Gargaú Geografia Geologia Geopark Guerra dos Bárbaros Guilherme História Viva Hominídeo IHCG IHGRN IPHAN-RN Ipuarana Jesuítas Jornal da Ciência José Octávio Juandi Juciene Apolinário Laboratório Lagoa Pleistocênica Lagoa de Pedra Lajedo de Soledade Linduarte Noronha Litoral Luto MAC Mato Grosso Matéria de TV Memórias do Olhar Mostra Museu Itinerante Ocupação humana Olivedos PROPESQ Paleo Paraíba Pará Pe. Luiz Santiago Pedro Nunes Pernambuco Pilões Pleistoceno Pocinhos Ponto de Cultura Projeto Catálogo Pré-História Pré-História submersa Quilombola Reivindicação Reportagem Revista Rio Paraíba SAB SBP SBPC Santa Luzia Sebo Cultural Seminário Semiárido Seridó Serra Branca Serra Velha Serra da Raposa Serra das Flechas Sertão Sessão Especial Sobrado Sumé São Mamede São Thomé do Sucurú Sócios TAAS Teleférico Terra Tome Ciência Técnicas Cartográficas UEPB Campus III Uol pelo Brasil Zonas arqueológicas caiabis mundurucu usina Índia Índios âmbar

Visitas desde SET 08

Translate

Estatísticas do google 2011

  © Arqueologia da Paraiba

Back to TOP