Nivalson Miranda, a Pedra do Ingá na praça.
Numa
manhã muito ensolarada eu estava em casa, acho que lendo alguma coisa, e minha
filha (Shirley) veio me chamar na biblioteca pra dizer que tinha alguém no
telefone querendo falar comigo. Eu perguntei se era homem ou mulher e ela disse
que achava que era um velhinho de voz apressada. Fui atender o telefone e, para
minha satisfação, era o amigo Nivalson Miranda, fiquei surpreso porque já o
conhecia há alguns anos, mas ele nunca havia me ligado antes. Nossa relação era
de encontros casuais, às vezes no IPHAEP, às vezes na sede do IHGP, nas
reuniões extraordinárias do IHGC, lançamentos de livros ou outros tipos de
eventos culturais, quase sempre em João Pessoa. Trocamos telefones, é fato, mas
sempre conversávamos nestas circunstâncias casuais e até então nunca havia sido
necessário fazermos contatos com fins específicos.
Devido
esta circunstância atípica, naquele milésimo de segundo em que meu cérebro
refazia todos os conceitos sobre aquele amigo de ocasiões, fiquei apreensivo
pra saber o quê o teria motivado a me ligar, especialmente porque sua voz
estava de fato “apressada” como disse minha filha, mas eu diria “eufórica”.
Então, para dissipar minhas dúvidas ele foi enfático: - Estou aqui em Campina
Grande, numa praça que fica ao lado do cinema Capitólio, e quero que você venha
aqui urgente que preciso lhe falar pessoalmente.
Depois
de me certificar de que ele falava da Praça Clementino Procópio e assegurar que
era só o tempo de vestir uma camisa, desliguei o telefone e fui me trocar com
uma dúvida ainda maior do quê aquela que tinha minutos atrás. O quê aquele
simpático senhor poderia querer comigo de tão urgente?
A
caminho da praça (que fica a menos de um quilômetro de minha casa), entre a
atenção no trânsito e a programação itinerária para me deslocar até lá, me
vinha à cabeça todas as relações que poderiam estar ligadas àquele chamado
inusitado. Nivalson era um ativista cultural, assim como eu, e esse era o
principal fator que nos ligava, mas também era um grande artista plástico,
desenhava maravilhosamente, e assim como eu, que me ocupo em desenhar
monumentos de pedra com inscrições rupestres, ele também desenhava monumentos
arquitetônicos de valor histórico. Mas esta última relação, certamente não
tinha nada com o assunto, pois acho que nunca lhe disse que eu tinha inclinação
para o desenho. Então, o quê poderia ser?
Cheguei
à praça e lá estava ele, com seu jeito “apressado”, e logo que me viu falou em
voz alta – Amigo Vanderley de Brito: grande autoridade sobre a Pedra do Ingá!
Aquele
cumprimento alvoroçado me faz perceber que o assunto talvez estivesse ligado ao
meu conhecimento sobre o monumento rupestre do riacho Bacamarte, mas,
Nivalson... Neste outro milésimo de segundo revisei meus conceitos sobre aquele
simpático senhor e não me recordava de haver qualquer relação ente ele e a
Pedra do Ingá.
Depois
de uma rápida (rápida mesmo) narrativa sinopse de como ele chegou ali e como
Campina Grande era bonita e agradável, Nivalson me convocou a ir até o carro
que lhe trouxe ali, mandou o motorista abrir a mala e, de forma imperativa, me
ordenou que lhe ajudasse a tirar da mala um grande rolo plástico que jazia
inerte e solitário no fundo da mala e disse: - Preciso que você veja uma coisa!
Desajeitado,
parecendo que havia esquecido que eu ostentava a outra ponta daquele rolo
misterioso, ele se dirigiu depressa para a praça com a outra extremidade do
rolo quase a me arrastar e, sem se preocupar com a placa proibitiva subiu no
canteiro de grama da praça e disse: - Vamos abrir aqui.
Vanderley e Nivalson - SPA |
Então,
por sobre a grama, foi se desenrolando um imenso painel que retratava a Pedra
do Ingá em seu habitat natural. Uma extravagante aquarela, de poucas cores e
muitas informações, fruto de um trabalho artístico dele, feito em observação
direta, que mandou imprimir por meio gráfico em tamanho grande: – E então, o
quê achou?
Sinceramente,
eu fiquei por um segundo sem saber o quê dizer. Foi tudo tão apressado e
desajeitado, sem preâmbulos ou nota introdutória, que eu ainda estava tentando
processar aquele evento maluco. Depois que consegui me revestir de bom senso,
disse que era uma bela obra, fiz algumas ponderações positivas de cunho
artístico e disse-lhe aqueles elogios clichês que supunha ser o que ele
pretendia ouvir.
Depois
disso veio a parte mais louca dessa “aventura”. Ele, sempre simpático e
falante, me retribuiu os elogios, me convidou a ir à sua casa quando possível
para me mostrar outras artes de sua lavra e, simplesmente, enquanto enrolava o
painel com a ajuda do motorista, disse que já era tempo e que precisava seguir
pra João Pessoa. Foi tudo uma questão de cinco minutos e ele já estava
partindo.
Voltei
atônito pra casa. Levei muitas dúvidas para o encontro e trouxe mais dúvidas
ainda para casa. Seria possível que Nivalson veio de João Pessoa até Campina
Grande só pra conseguir o aval de um especialista da Pedra do Ingá para
endossar sua arte?
Depois
disso, ele fez exposições do painel, mandou reproduzir centenas dele em tamanho
menor e até distribuiu em eventos, eu mesmo tenho uma cópia desta versão menor
que ele me enviou. Então percebi que aquele homem “apressado” era um artista
eufórico que tinha pressa em divulgar seus trabalhos, mas que jamais traria a
público uma obra que envolvesse ciência sem antes se certificar de que não
estaria fazendo bobagens. Coisa rara hoje em dia...
0 comentários:
Postar um comentário