Resquícios do passado sertanejo
Thomas Bruno Oliveira*
No início da semana, na área das obras de transposição do Rio São Francisco (em seu eixo-Norte), os operários foram surpreendidos por vestígios que afloraram no solo. Eram ossadas humanas, utensílios cerâmicos e ferramentas de pedra. Seriam testemunhos de culturas indígenas que habitaram os sertões?
A descoberta se deu no sítio Morros, na zona rural do município sertanejo de São José de Piranhas-PB e, a partir do momento do achado, as obras foram paralisadas naquele setor, para que o material arqueológico pudesse ser salvo.
Sítio Serra Branca, em Vieirópolis-PB, escavado por Pacelli. |
Em obras desse porte, com grande impacto ambiental, é previsto pela Constituição Brasileira a existência de um acompanhamento arqueológico por uma equipe especializada. No caso da transposição, o acompanhamento arqueológico está sendo feito – segundo informações do IPHAN – pelo Instituto Nacional de Arqueologia, Paleontologia e Ambiente do Semi-Árido (INAPAS) e a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), instituições muito competentes que tem desempenhado pesquisas no Brasil desde a década de 1970 tendo à frente nomes como, por exemplo, a famosa pesquisadora Niède Guidon.
Se estes vestígios são indígenas, muito provavelmente são! Agora os dados que eles vão nos trazer sobre estes povos ameríndios dependerá muito do estado em que se encontram os testemunhos, não sabemos exatamente o dano causado pelos operários no momento do achado e o que foi preservado. De toda forma, esperamos informações destes órgãos para que a contextualização com os dados existentes nas pesquisas arqueológicas possam ser realizadas. De imediato, segundo estudos de José Elias Borges, sabemos que aquela região era ocupada pelos índios Icós pequenos, da nação Cariri, isso até por volta do século XVII.
A partir de estudos da Sociedade Paraibana de Arqueologia, sabe-se seguramente que o sertão paraibano é um celeiro de sítios arqueológicos e que lá tivemos a primeira datação de um sítio arqueológico na Paraíba, exatamente no município de Vieirópolis cuja antiguidade chegou aos 6.921 anos, pesquisa feita na década de 1990 pelo arqueólogo Francisco Eugênio Pacelli (Prof. da UFCG-Cajazeiras, falecido ano passado).
Aguardamos com ansiedade os dados desta pesquisa, para que possamos compreender melhor este quebra-cabeça que é a Pré-história do Nordeste do Brasil.
*Historiador, thomasarqueologia@gmail.com
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