Alegorias do Passado
Vanderley de Brito*
A historiadora Mali Trevas, também especialista em paleontologia, em fins de 1993 descobriu uma lagoa pleistocênica numa vazante próxima à fazenda Torre, no interior do município de ingá. À época realizou uma escavação de resgate recolhendo vasto material fóssil de animais gigantes há muito extintos. O material foi analisado pelo paleontólogo da UFMG, Cástor Carlelle, que reconheceu restos fósseis de dois tipos de preguiças-gigantes, uma espécie de tatu-gigante, mastodonte e toxodonte.
O material ficou armazenado na prefeitura de Ingá e em 1996, Mali, através de uma parceria que conseguiu firmar entre a Prefeitura de Ingá (administração de José Iremar), a PBTur e a Fundação Casa de José Américo, desenvolveu um trabalho de restauração das principais peças para acomodar no Museu de História Natural do Ingá, que estava sendo estruturado numa sala do prédio de apoio próximo à Pedra do Ingá.
Naquela oportunidade, visando transformar a Pedra do Ingá num local mais atrativo para as visitações turísticas, Mali teve a iniciativa de recriar o cenário pré-histórico da região, ornamentando o lajedo com réplicas tridimensionais, em tamanho natural, de alguns destes animais extintos que foram exumados na lagoa. Para tanto, encarregou os artistas plásticos David Renovato e Nildo Vicente a fazerem as esculturas em cimento. Os rapazes fizeram réplicas de uma preguiça-gigante, um mastodonte e um tatu-gigante por sobre o lajedo, nas proximidades do prédio de apoio de onde se acessa o monumento arqueológico.
Muita gente gostou e, logicamente, outros acharam de mau-gosto. Todavia, quem mesmo detestou a idéia foi a coordenadora do curso de mestrado em pré-história da UFPE, professora Gabriela Martin. Declarando que pareciam bichos de carnaval, que não tinham nada a ver com o local e que deviam ser retirados dali imediatamente. Mali, na época mestranda em Pré-história pela UFPE e submetida à bolsa de estudo, mesmo contra vontade, não teve alternativa senão ordenar a retirado das réplicas. Na desmontagem, o modelo do mastodonte se fragmentou e as outras duas esculturas sofreram danos reparáveis.
Hoje, o que restou das esculturas, estão esquecidas e empoeiradas num canto da Garagem Pública de Ingá. Estive lá recentemente e as fotografei. Olhando-as, ali, no mais completo abando, fiquei a imaginar a contrariedade que minha amiga Mali sofreu neste episódio. São boas obras de arte e a intenção era a melhor possível. Acho até deveriam ser restauradas e instaladas no Museu de Ingá, contextualizando com os fósseis de lá, para que os visitantes possam ter idéia de como eram estes animais. Não só pelo valor artístico e didático, mas também em reparação a Mali que foi uma das maiores articuladoras para o desenvolvimento do turismo, divulgação e preservação do patrimônio cultural de Ingá.
Imagem: Réplica do Tatu Gigante em ruínas na garagem da Prefeitura Municipal de Ingá
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