A falésia do Cabo Branco
Carlos Alberto Azevedo*
Falésia do Cabo Branco. (espacoturismo.com) |
Os amigos da barreira do Cabo Branco que me perdoem...Mas a barreira vai
desaparecer para sempre. A afirmação é do saudoso cientista Leon Clerot que,
ainda na década de sessenta do século passado, vaticinou o desaparecimento da
mesma, por conta da ação abrasiva do mar (erosão costeira) e das ações
antrópicas negativas, isto é, obra de destruição feita pelo homem.
A ação abrasiva, segundo Clerot, acontece durante as marés altas,
ocasionando o desmoronamento da falésia viva, reduzindo consideravelmente o
volume da barreira - é um processo de desfiguração total da falésia pela
abrasão. Ao lado desse processo, o acidente geográfico sofreu durante décadas a
ação negativa do homem que atuou (e ainda atua) no planalto do tabuleiro.
A ação abrasiva faz parte da dinâmica do litoral e não se pode detê-la.
As correntes marítimas atuam, implacavelmente sobre diversas áreas da costa,
como por exemplo, na "praia Carne de Vaca,ao sul de Gramame; lá, todo
coqueiral já foi destruído pelas águas do mar e até uma rua inteira de casas
desapareceu" (devo essa informação a Leon Clerot).
Não adianta mais esse idealismo tardio dos preservacionistas românticos.
Agora é tarde, bastante tarde - por que não se evitou o desmatamento da mata do
Cabo Branco nos anos cinquenta? Por que não protestaram quando, em 1970, foi
construída a via de acesso para o Altiplano?
Não sou geólogo. Mas fui durante vários anos professor de Geografia
Física e Mineralogia no Colégio Estadual (Lyceu Paraibano) até ser exonerado do
cargo, em 1968, pelos esbirros da ditadura militar, no Governo de João
Agripino. Por isso, talvez tenha a devida sensibilidade para observar a
realidade dos fatos, ou seja, analisar a destruição galopante da falésia do
Cabo Branco.
Acho bastante ingênua a ideia de um projeto faraônico para salvar a
barreira. Para que gastar inutilmente 70 milhões de reais? Com essa quantia
poderia ser feita a restauração do Hotel Globo (Varadouro) e de dezenas de
outros bens culturais ameaçados.
*Carlos é antropólogo e membro efetivo do IHGP e Vice-Presidente da SPA
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