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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A casa-grande da Fazenda Amaro


Pedro Nunes Filho*

TRATA-SE DE uma das casas de fazenda mais antigas e imponentes do Município de Monteiro. Quem a construiu, ninguém sabe ao certo.  Para descobrir sua história será preciso realizar demoradas pesquisas em documentos cartoriais. Por enquanto, segredo não revelado. Segundo dizem, mistérios é que trazem emoção e desafiam mentes inquietas e curiosas.
Embora se trate de fazenda secular, saí à sua procura e quase ninguém sabia instruir-me acerca de sua localização. Dificuldades e pouca informação remetem ao desconhecido e tornam a procura ainda mais instigante. Depois de muitas buscas, escondida na cabeceira de um baixio extenso, de repente, diante dos meus olhos, a casa-grande do Amaro, fortaleza perdida no meio das caatingas. Sem dúvida, mais bonita ainda do que eu imaginava!
Autorizado a visitar a casa, entrei com o mesmo respeito de quem ingressa num templo sagrado com intuito de orar. Visita silenciosa, rendi homenagem a quantos por ali passaram, deixando rastos de bravura nos caminhos boiadeiros daqueles sertões inóspitas.  Verdade é que os habitantes daquele casarão sequer deixaram vestígio de suas existências, a não ser a própria construção. Paredes não falam. Se falassem... Ah, meu senhor, se elas falassem, eu teria muito mais coisas para lhe contar!...

Casa grande da Fazenda Amaro. Tratada digitalmente. Pedro Nunes Filho.

Pelos detalhes rústicos que ostenta, a obra encanta qualquer visitante de bom gosto. Linhas inteiriças, brabos e pontaletes, todos de miolo de aroeira. Caibros roliços de pereiro, ripas de freijó. Janelas e portas de madeiras nobres teimam em resistir ao tempo. Pé-direito alto, paredes dobradas. Fechaduras, ferrolhos, dobradiças, chaves e pregos, peças de arte forjadas na bigorna por mãos obreiras talentosas. Traves, taramelas e armadores de rede, em miolo de baraúna. Velhas mesas e bancos com bordas carcomidas pelo tempo. Oratório de devoção em recanto silencioso. Em tudo, a estética da simplicidade e o perfume do tempo.
Figuro que o velho casarão foi construído nos idos de 1700. Em duas etapas, creio. Primeiro, o módulo original: chalé alto, com primeiro andar, à semelhança dos velhos sobrados portugueses. Detalhe nunca visto em outras construções despertou minha atenção: recantos externos curvos, peculiaridade estética de rara beleza, fruto da criatividade de algum mestre de obra hábil e caprichoso. Quem sabe, o famoso Mestre João, construtor de igrejas monumentais! Quem sabe?...
Cor de ocre, a fachada principal é voltada para o Sul. O corpo da casa, pintado de cal. Quatro janelões sobranceiros, emoldurados com vistas brancas mostram marcas de balas das festas de guerra que há cem anos, um dia, ali aconteceram.
Dois pavimentos. No térreo, grande salão, cozinha e cômodo para estocar alimentos, na época, em abundância e da própria lavra. No primeiro andar, os aposentos, com assoalhos de madeira, hoje, em mau estado de conservação.
A segunda etapa da casa parece ter vindo tempos depois. A prole crescendo pedia mais espaços. Sem perder o senso estético, o patriarca fez uma puxada na lateral direita. Na frente, duas janelas e uma porta de entrada. Mãos-francesas ajudam a sustentar a biqueira, um pouco mais avançadas para proteger a porta de entrada contra as chuvas. Dentro, escada e passarela de madeira dão acesso aos aposentos da família, que eram muitos.
No primeiro andar, furo enviesado, saindo em cima da porta de entrada da casa. Armadilha para introduzir cano de rifle e despejar sementes de fogo em inimigos afoitos que se aventurassem a penetrar à força na intimidade do casarão.
Fora, céus infinitamente azuis, alicerces fincados em terra vermelha e pedregosa. Escada de alvenaria. Telhados escurecidos pela ação do tempo.
No mais, a Guerra de 12, que ali teve início.


*Sócio Efetivo da SPA
pnunesfilho@yahoo.com.br

2 comentários:

Esbalda mendes,  2 de março de 2012 às 19:07  

Sou de São Paulo e minha vo Dalva Rodrigues Bezerra nasceu e se criou nesta casa, filha de Aristides e Josefa.
Tive o prazer de conhecer e passear por este lugar que realmente e encantador.

Anônimo,  26 de março de 2012 às 21:12  

que fez a casa foi manoel monteiro bisavo da minha vo hellena aqui e a neta dela flaviana

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