Arqueologia Experimental
Thomas Bruno Oliveira*
Estive integrando a equipe que escavou quatro sítios arqueológicos através do projeto ‘Cariri e Tarairiú: Cultura Tapuia no interior da Paraíba’ coordenado pelo arqueólogo e Professor da UEPB Juvandi de Souza Santos. Nestas atividades, pude conhecer outros pesquisadores e profissionais de outros estados, a exemplo dos arqueólogos Flávio Moraes e Onésimo Santos, ambos de Pernambuco.
Com eles, pude aprender muito a respeito do nosso passado indígena além de conhecer técnicas de escavação e pesquisa arqueológica e poder observar como pensam os arqueólogos, como percebem os vestígios e de que forma os analisa.
Nas duas últimas escavações, uma em Cuité-PB no sítio arqueológico Cabaças I e a outra em Seridó-PB no sítio Tanque do Capim, foi a arqueologia experimental que mais me chamou a atenção, atividade praticada pelo arqueólogo Onésimo, que está concluindo o doutorado em Pré-História na Universidade de Naterre, na França. Ele recolheu, em campo, um graveto e uma pequena tora de aroeira; com uma lasca de sílex fez um orifício nesta tora e iniciou a fricção do graveto, que em poucos instantes exalava um forte cheiro de madeira queimada. Estava na tentativa de ‘fazer fogo’ através deste método que fora empregado por populações antigas em várias partes do mundo.
Neste mesmo sítio, após uma breve caminhada no entorno, o experiente arqueólogo recolheu argila em uma das ravinas produzidas pela chuva na base da elevação que foi, em outrora, utilizada como pouso de comunidades nativas. Com estes torrões de argila, Onésimo produziu dois pequenos recipientes cerâmicos através do amassamento, dando forma as peças com os dedos polegares. No outro dia, estes utensílios foram cozidos em uma fogueira de galhos de marmeleiro, que deu as peças a rigidez e consistência apropriada para sua utilização.
Já no sítio Tanque do Capim, este arqueólogo lascou um pequeno núcleo de quartzo (mineral abundante na região) transformando-o em uma pequena ponta. Esta foi introduzida na extremidade de um galho de catingueira (que foi aberto ao meio), sendo após amarrada com fibras vegetais. Com intuito de fixar esta junção, Onésimo foi a busca de seivas de árvores como a Aroeira e a Baraúna, para impedir que a amarração pudesse soltar. Estava produzida uma flecha, que depois da confecção de um arco simples (feito com um galho de catingueira e uma corda), foi lançada de um lado para outro.
Estas experiências fizeram com que os integrantes destas expedições pudessem refletir a respeito da forma de vida destes nativos e de suas possibilidades de criação. Todas as experiências foram acompanhadas por explicações do próprio pesquisador que discernia citando informações de alguns autores como o tempo necessário e o método empregado por vários grupos humanos, em todo mundo, para produzir estes utensílios.
Foi uma experiência interessante, além do aprendizado que a própria atividade de escavação proporcionou, pude perceber um pouco mais de como os indígenas que por aqui viveram se apropriavam de seu ambiente e utilizava os recursos que o cercava.
*História UEPB, Sócio da SPA, IHGC e GEPAHI / thomasarqueologia@gmail.com
2 comentários:
Muito interessante esta nota, acho que só assim para entender melhor esses homens. Parabens pelo trabalho.
Meu amigo Thomas, mais uma vez lhe parabenizo assim como a todos participantes do projeto ‘Cariri e Tarairiú: Cultura Tapuia no interior da Paraíba’ pela seriedade e compromisso com essa ciência tão fascinante. Muito bom o artigo, parabéns pelo trabalho e sucesso!!!
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